domingo, 29 de julho de 2007

Tempo

Você que tanto tempo faz
Você que eu não conheço mais
Você que um dia eu amei demais

Você que ontem me sufocou,
De amor e de felicidade
Hoje me sufoca de saudade.

Você que já não diz pra mim
As coisas que eu preciso ouvir
Você que até hoje eu não esqueci.

Você que eu tento enganar
Dizendo que tudo passou
Na realidade é que em mim você ficou.

Você que eu não encontro mais
Os beijos que já não lhe dou
Fui tanto pra você e hoje nada sou.

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Não conheço a autoria e dei uma modificada.

Poema simplesmente PER-FEI-TO!

Amizade

Há certas horas em que não precisamos de um amor.
Não precisamos de paixão desmedida.
Não queremos beijo na boca e nem corpos a se encontrar na maciez de uma cama.
Há certas horas em que só queremos a mão no ombro, o abraço apertado, ou mesmo o estar ali, quietinho, ao lado, sem nada a dizer...
Há certas horas, quando sentimos que estamos a chorar, que desejamos uma presença amiga, a nos ouvir paciente, a brincar com a gente, a nos fazer sorrir...
Alguém que ria de nossas piadas sem graça, que ache as nossas tristezas as maiores do mundo, que nos teça de elogios sem fim....
E que, apesar de todas essas mentiras úteis, nos seja de uma sinceridade inquestionável.
Que nos mande calar a boca, ou nos evite de um gesto impensado; alguém que possa dizer: você está errado, mas eu estou ao seu lado.
Ou apenas alguém que nos diga:
“Fazer um amigo é um dom!
Ter um amigo é uma graça!
Conservar um amigo é uma virtude!
Ser seu amigo é uma honra!”

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Desconheço a autoria.

domingo, 15 de julho de 2007

Eu sei, mas não devia - Marina Colasanti

EU SEI QUE A GENTE SE ACOSTUMA. Mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor.

E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas logo se acostuma acender mais cedo a luz. E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá pra almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos. E aceitando os números aceita não acreditar nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. A lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.

E a ganhar menos do que precisa. E a fazer filas para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes. A abrir as revistas e a ver anúncios. A ligar a televisão e a ver comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos. A gente se acostuma à poluição.

As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. A luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. A contaminação da água do mar. A lenta morte dos rios.

Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta. A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.

Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.

Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta, de tanto acostumar, se perde de si mesma.

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Simplesmente amei o poema, até chorei quando escutei pela primeira vez, porque ele é lindo e faz total sentido, não acham?